Handout: Outras Mentes
HANDOUT: OUTRAS MENTES
Seja E a minha experiência interna correspondendo a um estímulo físico F; seja E* a experiência de outra pessoa correspondendo ao mesmo estímulo físico (e.g., ao olhar uma árvore eu tenho a sensação E e ao olhar a mesma árvore outra pessoa tem a sensação E*)
IDENTIDADE NUMÉRICA: E e E* são uma e a mesma ≠
IDENTIDADE QUALITATIVA: E e E* são duas, mas indistinguíveis≠
SEMELHANÇA QUALITATIVA: E e E* não são indistinguíveis, mas suficientemente parecidas
Ponto de partida:
F se dá no mundo físico (externo à mente)
E e E* se dão no mundo mental (interno à mente)
Argumento I (razoável):
P1: E e E* apenas podem ser numericamente idênticas se estiverem na mesma mente
P2: E e E* ocorrem em mentes diferentes
C: E e E* não são numericamente idênticas
Pergunta: E e E* podem ser qualitativamente idênticas?
Argumento II (levemente cético):
P1: Eu só posso saber se E e E* são qualitativamente idênticas se eu puder comparar E e E*
P2: Eu só posso comparar E e E* se tiver acesso à mente de outra pessoa
P3: Eu não tenho acesso à mente de outra pessoa
C’: Eu não posso saber se E e E* são qualitativamente idênticas
Argumento II (moderadamente cético):
P1: Se E e E* não são qualitativamente idênticas, há pelo menos diferenças mínimas entre E e E*
P2: Se há pelo menos diferenças mínimas entre E e E*, pode haver diferenças grandes (radicais?) entre E e E*
C: Se E e E* não são qualitativamente idênticas, pode haver diferenças grandes (radicais?) entre E e E*
Argumento III (fortemente cético):
P1: Se pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*, o que me parece como sensação visual pode ser, e.g., uma sensação tátil (ou sonora ou olfativa, etc.) para outra pessoa
P2: Pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*
C: O que me aparece como sensação visual pode ser uma sensação tátil (ou sonora ou olfativa, etc.) para outra pessoa
(Ex.: Bioy Casares, “Plano de Evasão”)
Argumento IV (fortemente cético):
P1: Se pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*, o que me parece em E como sensação visual pode ter uma natureza por mim desconhecida em E*
P2: Pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*
C: O que me parece em E como sensação visual pode ter uma natureza por mim desconhecida em E*
Argumento V (fortemente cético):
P1: Se pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*, o que parece a outra pessoa E* como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente em E para mim
P2: Pode haver diferenças qualitativas radicais entre E e E*
C: O que parece a outra pessoa E* como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente para mim
Argumento VI (fortemente cético)
P1: Se o que parece a outra pessoa E* como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente em E para mim, então pode acontecer de E* existir mas E não existir
P2: O que parece a outra pessoa E* como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente em E para mim
C: Pode acontecer de E* existir mas E não existir
(razoável se pensarmos, e.g., nas experiências sensíveis de morcegos, cães, telepatas)
(Nagel, “What is it like to be a bat?” (1974))
Argumento VII (fortemente cético)
P1: Se o que me parece em E como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente em E* para outra pessoa, então pode acontecer de E existir mas E* não existir
P2: O que me parece em E como sensação de um tipo pode ter uma natureza completamente diferente em E*
C: Pode acontecer de E existir mas E* não existir
(razoável se pensarmos, e.g., em cegos, surdos, daltônicos, etc. de nascença, ou em minhocas, amebas, etc.)
Argumento VIII (radicalmente cético)
P1: Se pode acontecer de uma E* não existir para outra pessoa, pode acontecer de nenhuma E* existir para outra pessoa
P2: Pode acontecer de uma E* não existir para outra pessoa
C: Pode acontecer de nenhuma E* existir para outra pessoa
(i.e., não tem vida mental; seria um autômato ou zombie)
((Ex.: Bioy Casares, “A Invenção de Morel”))
Argumento IX (cético no sentido contrário)
P1: Se houver vida mental em coisas como plantas e pedras, eu não posso ter acesso à mesma.
P2-Se eu não posso ter acesso a uma mente fora da minha, eu não posso saber que ela existe.
P3-Eu não posso ter acesso a nenhuma mente fora da minha
C: Se houver vida mental em coisas como plantas e pedras, eu não posso saber que ela existe.
C*: Existe a possibilidade de haver vida mental em pedras, plantas, etc., sem que eu saiba
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