Handout: Certo e Errado

 

Handout: Certo e Errado

 

 

Intuição: Ação A (roubar um livro, matar, mentir, etc.) é errada

Mas: O que significa isso?

 

 

i-errado = ser contra as regras?

ii-errado = causa uma sensação ruim/culpa (Hume)?

iii-errado = é proibido por Deus (religião, Dostoieviski)?

iv-errado = as consequências são desvantajosas para mim (egoísmo)?

v-errado = as consequências são desvantajosas para minha família e amigos (egoísmo estendido)?

vi-errado = as consequências são desvantajosas para o meu grupo social (utilitarismo, Mill)?

vii-errado = as consequências são desvantajosas para a humanidade (utilitarismo, Mill)?

viii-errado = é errado e pronto, independente das consequências (para mim, minha família e amigos, e humanidade) (deontologia, Kant)?

 

 

Suponha que eu consiga evitar o que é dito em i a vii, ainda assim a ação seria errada moralmente (como dito em viii)?

 

Problema central:

Se eu tenho uma motivação pessoal para fazer A, existe alguma razão moral para não fazer A?

(ou vice-versa, se tenho uma motivação pessoal para não me importar em (ou pelo menos tentar) fazer A, existe alguma razão moral para me importar em (ou pelo menos tentar) fazer A?)

 

 

 

Alguns pontos importantes para entender o argumento de Nagel abaixo:

 

-Ter uma motivação pessoal para fazer uma ação A ≠ ter uma razão moral para fazer uma ação A

(Alternativamente, ter uma motivação pessoal para deixar de fazer uma ação A ≠ ter uma razão moral para deixar de fazer uma ação A)

 

-Indignação (ou sentimento de desrespeito; “resent”) ≠ mero desconforto, tristeza, dor, etc.

(contraste: ser roubado com perder um jogo; dor de bater o martelo no dedo com sensação de presenciar uma injustiça)

-ser consistente = não pensar duas coisas contraditórias

 

 

 

 

 

 

ARGUMENTO DO “COMO VOCÊ SE SENTIRIA SE ALGUÉM (UMA PESSOA X) FIZESSE A COM VOCÊ?”

Podemos representar este argumento em 3 etapas (3 sub-argumentos):

 

Sub-Argumento I:

P1-Eu me sentiria indignado se uma pessoa X fizesse A comigo.

P2-Se eu me sentiria indignado se uma pessoa X fizesse A comigo, isto indica que mais que um desconforto causado a mim, X tem uma RAZÃO para não fazer A a mim.

___________________________________________________

C: X tem uma RAZÃO para não fazer A a mim.

 

Sub-Argumento II:

P1 (=C)-: X tem uma RAZÃO para não fazer A a mim.

P2-Eu não sou especial com relação a nenhuma outra pessoa Y.

__________________________________________

C*: X tem uma RAZÃO para não fazer A a nenhuma pessoa Y.

 

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

-X é qualquer pessoa.

-se eu quiser discordar de P2 aqui, ou eu desautorizo a minha indignação, ou eu preciso providenciar razões por quê eu sou especial com relação às outras pessoas de tal forma que a razão de X é só com relação a mim.

Sub-Argumento III:

P1- X tem uma RAZÃO para não fazer A a nenhuma pessoa Y

P2-Eu não sou especial com relação a X

C**-EU tenho uma RAZÃO para não fazer A a nenhuma pessoa Y

 

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

-se eu quiser discordar de P2, eu estarei sendo inconsistente pois assumi P2 no sub-argumento anterior.

 

Interlúdio:

Argumento Ancestral            Kant e o Imperativo Categórico

Teste da ação A sendo tornada universal: Uma ação só é moral se puder ser universalizada sem contradição.

 

P1-Mentir significa fazer outra pessoa acreditar no que sabemos não ser verdadeiro.

P2-Para que outras pessoas acreditem no que sabemos ser falso, ela tem que ter a expectativa de que está sendo apresentada com a verdade.

P3-Se todos mentissem, ninguém mais teria a expectativa de que está sendo apresentado com a verdade.

C: Se todos mentissem, a mentira não mais existiria.

NOTA: esta conclusão tem um ar de contradição, i.e., uma prática que se, universalizada, destrói as bases da própria prática.

 

Imoralidade = uma espécie de inconsistência

 

Questão resolvida?               Não! Isto é um mero rascunho da existência da moralidade; muito precisa ser respondido ainda.

 

-Quanto devemos nos preocupar com outras pessoas? Até que ponto levar os seus interesses em consideração? Qual o peso sobre nossas deliberações? Qual o balanço correto?

 

-Não parece levar em conta a variabilidade de balanço de pessoa para pessoa. (Há uma única forma de balancear?)

 

-Se não há uma indicação de como balancear, não está claro que de fato a moralidade seja uma e única para todos (pois cada um vai ter sua maneira de balancear seus motivos com a preocupação com os outros.

(ISTO É UM PROBLEMA, POIS A MORALIDADE É SUPOSTAMENTE UNIVERSAL, I.E., A MESMA PARA TODOS)

 

Como conciliar a universalidade da moralidade com a relatividade das motivações pessoais?

Nagel lista algumas alternativas (nenhuma delas satisfatória):

 

Alternativa 1: A moralidade só fornece razões para agir a quem tem um tipo específico de motivação (i.e., a motivação moral). (Ruim: moralidade continua universal, mas sem nenhuma força)

 

Alternativa 2: A moralidade fornece razões para agir, independente das motivações pessoais. (Ruim: despreza a dimensão psicológica da ação moral)

 

Alternativa 3: Abandonar a ideia de que a moralidade é universal; ela apenas dá razões para agir para quem tem preocupações morais entre suas motivações. (Ruim: perde-se a universalidade da moralidade.)

 

Conclusão: Nagel não responde!

 

Alternativa 3: também se coloca quando pensamos em grupos sociais; o que é certo e errado relativo a grupos e a épocas históricas. (E.g., sacrifícios humanos entre os Aztecas; pena de morte.)

 

Nagel: este relativismo é difícil de ser engolido; pois normas socialmente aceitas são passíveis de crítica (caso o relativismo fosse correto, não haveria uma base para criticar as normas sociais aceitas)

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